EUA enviam 700 fuzileiros navais para Los Angeles


As Forças Armadas dos Estados Unidos vão enviar temporariamente cerca de 700 fuzileiros navais para Los Angeles até que mais tropas da Guarda Nacional possam chegar, marcando outra escalada na resposta do presidente Donald Trump aos protestos de rua contra suas políticas agressivas de imigração.
O Comando Norte dos EUA disse que um batalhão deve ser enviado para ajudar a proteger a propriedade e pessoal federais até que mais tropas da Guarda Nacional possam chegar ao local.
Por enquanto, o governo Trump não está invocando a Lei da Insurreição, que permitiria a participação direta das tropas na aplicação da lei civil, segundo uma autoridade dos EUA que falou sob condição de anonimato.
As tensões têm aumentado desde que Trump acionou a Guarda Nacional no sábado -- ato que classificado por democratas como uma provocação desnecessária -- após a eclosão de protestos de rua em resposta às batidas de imigração no sul da Califórnia. Esse é o ponto mais emblemático até agora em meio aos esforços agressivos do governo Trump para deportar imigrantes que vivem no país ilegalmente.
Trump disse nesta segunda-feira que sentiu que não tinha escolha a não ser ordenar a mobilização para evitar que atos de violência saíssem do controle.
Ele apoiou uma sugestão de seu chefe de fronteira de que o governador da Califórnia, Gavin Newsom, fosse preso após o democrata dizer que o Estado estava abrindo um processo para bloquear o envio da Guarda Nacional.
O governo Trump argumentou que seu antecessor, Joe Biden, permitiu a entrada de um número excessivo de imigrantes no país e que cidades istradas pelos democratas, como Los Angeles, estão interferindo indevidamente nos esforços para deportá-los.
As manifestações de rua continuaram ao longo do fim de semana e nesta segunda-feira, quando centenas de manifestantes se reuniram do lado de fora de um centro de detenção no centro da cidade.
Em meio a uma forte presença da polícia, manifestantes carregavam cartazes denunciando o governo Trump enquanto uma banda tocava música mexicana.
Outras manifestações foram planejadas em mais de uma dúzia de cidades, incluindo Atlanta, Boston, Chicago, Nova York e São Francisco.
A questão é se a força militar -- a Guarda Nacional ou os fuzileiros navais -- é necessária, como sustentam os principais republicanos, ou se configura um abuso do poder presidencial, como afirmam os democratas.
Os fuzileiros navais dos EUA foram mobilizados internamente para grandes desastres, como o furacão Katrina e os ataques de 11 de setembro de 2001. Eles são conhecidos por serem os "primeiros a entrar e os últimos a sair" em intervenções militares dos EUA no exterior, mas é extremamente raro que tropas militares dos EUA sejam usadas para questões de policiamento doméstico.
Trump poderia enviar fuzileiros navais sob certas condições da lei ou sob sua autoridade como comandante em chefe. Sem invocar a Lei da Insurreição, os fuzileiros navais, assim como a Guarda Nacional, ainda estariam sujeitos a uma proibição legal que os impede de aplicar diretamente as leis civis e provavelmente estariam limitados à proteção de funcionários e propriedades federais.
A última vez que as Forças Armadas foram usadas para ação policial direta sob a Lei da Insurreição foi em 1992, quando o governador da Califórnia na época pediu ajuda ao ex-presidente George H.W. Bush em resposta aos distúrbios de Los Angeles por causa da absolvição dos policiais que espancaram o motorista negro Rodney King.
Mesmo que seja apenas para dar apoio, o uso dos fuzileiros navais no contexto de uma questão policial certamente levantará mais objeções dos democratas, que acusam Trump de aumentar desnecessariamente as tensões em Los Angeles.
"O nível de escalada é completamente injustificado, desnecessário e sem precedentes", disse a assessoria de imprensa de Newsom no X.
O procurador-geral da Califórnia, Rob Bonta, disse em um comunicado que seu gabinete entrou com uma ação na Justiça. A Reuters não pôde confirmar imediatamente que uma ação judicial havia sido movida.
A lei federal permite que o presidente mobilize a Guarda se a nação for invadida, se houver "rebelião ou perigo de rebelião", ou se o presidente for "incapaz de executar as leis dos Estados Unidos com as forças regulares".
Ao retornar à Casa Branca após uma noite em Camp David, Trump foi questionado por um jornalista se o manda-chuva da política de fronteira, Tom Homan, deveria prender Newsom. Homan ameaçou prender qualquer pessoa que obstrua os esforços de fiscalização da imigração, inclusive o governador.
"Eu faria isso se fosse Tom. Acho que é ótimo", respondeu Trump. "Gavin gosta da publicidade, mas acho que seria uma coisa ótima."
Em uma publicação no X, Newsom chamou a ameaça de prisão de "o inequívoco em direção ao autoritarismo".
A Casa Branca e os republicanos do Congresso alegaram que os protestos eram mais um motivo para a aprovação do "grande e belo projeto de lei" de Trump, que aumentaria a segurança nas fronteiras e os gastos militares.
O projeto de lei, agora no Senado dos EUA após ser aprovado pela Câmara dos Deputados, também reduziria os impostos, cortaria os benefícios do Medicaid e eliminaria as iniciativas de energia verde.
Os conservadores fiscais do Senado, assim como o ex-conselheiro de Trump, Elon Musk, têm se recusado a aceitar o custo do projeto de lei, dizendo que ele aumentará o déficit orçamentário do país.
Trump prometeu deportar um número recorde de pessoas que estão no país ilegalmente e bloquear a fronteira entre os EUA e o México, estabelecendo para a agência de fiscalização de fronteiras ICE uma meta diária de prender pelo menos 3.000 migrantes.
Para os democratas, sem liderança desde que Trump venceu a eleição presidencial em novembro ado, os protestos de Los Angeles serviram como um ponto de encontro, permitindo que eles encontrassem alguma base política enquanto enfrentam as políticas do governo.
O episódio proporcionou a Newsom, em seu segundo mandato como governador, uma plataforma nacional que o permitiu se apresentar como o principal antagonista de Trump.
Mas também ressaltou os riscos de parecer solidário demais com os manifestantes, alguns dos quais incendiaram carros e jogaram garrafas na polícia. Durante seu primeiro mandato, Trump castigou os democratas pela agitação civil durante os protestos contra o assassinato de George Floyd, um homem negro, por um policial branco em 2020.
Em uma demonstração desse delicado ato de equilíbrio, a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, culpou o governo Trump por incitar tensões ao enviar a Guarda, ao mesmo tempo em que condenou os manifestantes.
"Não quero que as pessoas caiam no caos que acredito estar sendo criado pelo governo de forma totalmente desnecessária", disse Bass em uma coletiva de imprensa no domingo.
Trump acusou Newsom e Bass de minimizarem a violência.
"Tomamos uma ótima decisão ao enviar a Guarda Nacional para lidar com os tumultos violentos e instigados na Califórnia", publicou ele nas mídias sociais nesta segunda-feira. "Se não tivéssemos feito isso, Los Angeles teria sido completamente destruída."
* Reportagem de Jane Ross, Jorge Garcia e Arafat Barbakh; Reportagem adicional de Sandy Hooper, em Los Angeles, Doina Chiacu e Steve Holland, em Washington, Nandita Bose, em Bedminster, Nova Jersey, Lizbeth Díaz e Noé Torres, no México e Alexia Garamfalvi, em Nova York, Gursimran Kaur e Shubham Kalia, em Bengaluru
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